sábado, 13 de agosto de 2011

Carta aos Irmãos [Trecho]


Carta aos Irmãos [Trecho]

Edição 2093 - Publicado em 23/Julho/2011 - Página B4

[TRECHO 1 DA CARTA AOS IRMÃOS]

'' O Sutra de Lótus é o coração dos oitenta mil ensinos(1) e a essência das doze divisões das escrituras(2). Os budas de todas as três existências atingem a iluminação porque tomam esse sutra como mestre. Os budas das dez direções(3) conduzem os seres vivos empregando o ensino do veículo único [o Sutra de Lótus] como seus olhos” (WND, v. 1, p. 493).
EXPLANAÇÃO DO TRECHO 1
O supremo valor de praticar o Sutra de Lótus
Nos parágrafos iniciais desta escritura, o Buda Nitiren Daishonin ressalta a superioridade do Sutra de Lótus sobre todos os demais ensinos do Buda Sakyamuni. O Sutra de Lótus, explica, é o “coração” do enorme conjunto de sutras conhecido como os “oitenta mil ensinos” e a “essência” dos ensinos do Buda referidos como as “doze divisões das escrituras”. Ele ainda diz que não apenas todos os budas através do tempo e do espaço atingem a iluminação adotando-o como mestre mas também guiam os seres vivos a esse objetivo.
Podemos deduzir que Daishonin começa a esclarecer o significado da fé desse modo em virtude da gravidade da situação em que os irmãos se encontravam. Ensina que a determinação para superar qualquer adversidade deriva da ­convicção e da alegria que uma pessoa sente quando reconhece profundamente o valor supremo de praticar o Sutra de Lótus.
No trecho seguinte, o Buda Nitiren prossegue analisando diversos pontos de vista das graves consequências de abandonar a fé no Sutra de Lótus. A razão de o abandono a esse ensino ser uma grave falta é que “o Sutra de Lótus representa os olhos de todos os budas. É o verdadeiro mestre do Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos” (WND, v. 1, p. 494). Em outras palavras, abandonar a fé é descartar o ensino supremo.
Num nível mais profundo, abandonar o Sutra de Lótus equivale a rechaçar os princípios fundamentais que o Sutra incorpora, como a iluminação universal, o respeito a todas as pessoas e a convivência harmoniosa. Quando nos comportamos dessa forma, intensificamos em nossa vida os três venenos — avareza, ira e estupidez(4) — ações contrárias à Lei suprema, e somos facilmente dominados pela escuridão e destinados a transitar pelos estados inferiores da existência.
Daishonin procura conscientizar os irmãos Ikegami da importância da fé absoluta, explicando-lhes que seria uma gravíssima ofensa desprezar “uma palavra ou mesmo um traço do sutra” (Cf. WND, v. 1, p. 494). Nessa admoestação, sentimos a imensa benevolência do Buda. Por todos os meios possíveis, ele procura convencer os irmãos a jamais pensar em abandonar a fé naquele momento decisivo.

[TRECHO 2 DA CARTA AOS IRMÃOS]

''Além disso, é extremamente difícil encontrar uma pessoa que exponha esse sutra exatamente como ele ensina. Isso é ainda mais difícil que uma tartaruga de um único olho encontrar um pedaço de madeira de sândalo flutuando(5), ou alguém suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de um lótus(6). (WND, v. 1, p. 495).
EXPLANAÇÃO DO TRECHO 2
A nobre herança de mestre e discípulo
Ao analisar o significado do ensino do Sutra de Lótus, ou da Lei, Nitiren Daishonin focaliza a importância das pessoas que o expõem e o praticam.
Mesmo o ensino mais sublime será em vão se não houver quem o aplique na vida. Isso está expresso na declaração do Buda Nitiren: “A Lei não se propaga por si só. Por ser propagada pelas pessoas, tanto as pessoas como a Lei são dignas de respeito” (Hyaku Rokka Sho [As Cento e Seis Comparações], Gosho Zenshu, p. 856).
É extremamente raro encontrar alguém “que exponha esse sutra exatamente como ele ensina”. Daishonin explica que encontrar um mestre assim é ainda mais difícil que realizar um feito impossível, por exemplo, “uma tartaruga de um único olho encontrar um pedaço de madeira de sândalo flutuando”, ou alguém que consiga “suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de lótus”.
A pessoa ou o mestre mencionado aqui é o devoto do Sutra de Lótus e, especificamente, se refere a Nitiren Daishonin. É algo realmente extraordinário encontrar Daishonin neste mundo saha(7), nesta era obscura conhecida como Últimos Dias, contaminada pelas cinco impurezas(8).
Do mesmo modo, é difícil que as pessoas da era posterior à morte de Daishonin possam se encontrar com um autêntico líder budista que propague a Lei Mística, a essência do Sutra de Lótus, exatamente como o Buda Nitiren ensina. Para mim, não há alegria maior do que ter nascido neste mundo, encontrado o Sr. Toda — o grande mestre do Kossen-rufu — e o adotado como mestre. Quando conheci o Sr. Toda, soube instintivamente que poderia confiar nele. Meu mestre foi a razão de eu ter iniciado a prática do Budismo Nitiren.
Que tesouro precioso é a relação de mestre e discípulo! Do ponto de vista do Budismo, é um laço de suprema nobreza. Se não fosse pelo mestre Tsunessaburo Makiguti e por seu discípulo Jossei Toda — os dois primeiros presidentes da Soka Gakkai —, o renascimento do Budismo Nitiren na era moderna jamais teria ocorrido.
Eis por que a Lei, ou o ensino do Buda, vive apenas na vida dos que a praticam, e seu verdadeiro valor só se manifesta na conduta e nas ações do praticante. Se não houver ­pessoas que pratiquem corretamente o ensino do Buda, ou que sejam ­fiéis ao espírito do fundador, nenhum valor será criado por esse ensino.
Ter um mestre na fé é condição vital para se praticar corretamente. Além disso, a Lei se transmite quando os discípulos atuam com o mesmo espírito que o mestre. A relação de mestre e discípulo é a base do Budismo Nitiren.
Nossa rede da SGI, atualmente, está presente no mundo inteiro. Milhões de membros, transcendendo diferenças de idiomas e etnias, concentram esforços para expor “esse sutra exatamente como ele ensina”. Manter e transmitir a nobre herança de 
mestre e discípulo, e avançar com a Soka Gakkai, é edificar uma vida realmente sublime e significativa. Todos os que assim fizerem, merecerão o supremo louvor de Nitiren Daishonin.
(1) Oitenta mil ensinos: Também denominado oitenta mil ensinos sagrados e oitenta e quatro mil ensinos. A totalidade dos ensinos expostos pelo Buda Sakyamuni durante sua existência. O número é frequentemente citado como “oitenta e quatro mil”. Esse cálculo não é exato. É usado para indicar simplesmente um número muito grande.
(2) Doze divisões das escrituras: Classificação dos ensinos do Buda Sakyamuni de acordo com o conteúdo e o estilo de apresentação. O termo “doze divisões das escrituras” costuma ser empregado no mesmo sentido que os “oitenta mil ensinos”, para indicar o conjunto de doutrinas expostas pelo Buda.
(3) Budas das dez direções: As oito direções da bússola mais o zênite e o nadir.
(4) Três venenos da avareza, ira e estupidez: Males fundamentais inerentes à vida que originam o sofrimento humano. Na obra Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria, de Nagarjuna, os três venenos são vistos como a fonte de todas as ilusões e de todos os desejos mundanos. São assim chamados porque contaminam a vida das pessoas e as impedem de voltar o coração e a mente para o bem.
(5) “uma tartaruga de um único olho encontrar um pedaço de madeira de sândalo flutuando”: Essa metáfora consta no 27o capítulo do Sutra de Lótus, “Rei Adorno Maravilhoso”. Indica que é extremamente raro uma pessoa encontrar o Buda e os ensinos dele. A dificuldade é muito maior que a encontrada por uma tartaruga de um olho só à procura de um tronco de sândalo flutuando no mar, com uma concavidade do tamanho exato para acomodá-la.
(6) “suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de um lótus”: Metáfora para uma ação impossível. Na cosmologia indiana, o monte Sumeru é um pico monumental que se eleva do centro do mundo.
(7) Mundo saha: O mundo cheio de sofrimentos em que vivemos. É frequentemente traduzido como “mundo onde se resiste”. Saha quer dizer “terra”; deriva de um radical que significa ”suportar” ou “resistir”. Nesse contexto, “mundo saha” é o lugar em que os seres humanos devem resistir aos sofrimentos. Também é descrito como uma terra impura, contaminada pelos desejos mundanos e pelas ilusões.
(8) Cinco impurezas: As impurezas da época, do desejo, dos seres vivos, da visão (ou do pensamento) e da própria vida. São mencionadas no segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. (1) A impureza da época compreende as constantes rupturas da ordem social ou do equilíbrio ambiental. (2) A impureza do desejo é a tendência a ser governado pelos impulsos ilusórios: avareza, ira, estupidez, arrogância e dúvida. (3) A impureza dos seres vivos é a decadência física e espiritual do ser humano. (4) A impureza do pensamento ou das ideias é preponderância de ideias errôneas, como as cinco ideias falsas. (5) A impureza da vida é a brevidade da duração da existência dos seres humanos.

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